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quinta-feira, 27 de março de 2014

História Sem Fim

Tudo é sempre animador em uma nova história, poemas ou em um conto, onde o escritor já não sabe onde suas palavras terminam e seu corpo começa.
Onde sua mente escreve e sua capacidade mente ou onde suas verdades são tintas e sua tinta são verdades.
Noites e noites com os olhos fitando a escuridão, um papel uma caneta e uma xícara vazia.
Um história aqui e outra ali, perdida entre sonhos e eventos do cotidiano, estou com a ideia perfeita para meu novo livro pensa o escritor, mas em segundo ela já se foi, ralo a baixo por um sinal fechado ou pelo ônibus que vem, você vai e junto as ideias também.
Começando com um Era Uma Vez, ou qualquer outro clichê literário e no fim é um felizes para sempre de praxe e uma história burocrática fica pronta como em um passe de mágica.
Sempre termine suas histórias, pois se não elas terminam com você diz o  poeta divagando sobre a vida , ela é uma versão melhorada sua onde seus desejos não tem limites e seus medos não existem.
Ela te conhece tão bem quanto um espelho, ela sabe onde se esconder e sabe em que momento aparecer ah essas historinhas são danadas de mais.
Escreva, passe tudo ao papel se não suas palavras te consomem até o fim, se o escritor não colocar o ponto final o ponto final se torna o escritor.


quarta-feira, 26 de março de 2014

Morrer Nunca é o Bastante

Hoje faz cinquenta e dois anos que morri, meu quinquagésimo segundo aniversario de morte, o tempo passa mesmo para um cadáver.
Junto comigo muitos outros até bem pior, cada um mergulhado em suas alegrias ou o que pensam ser, com suas moralidades e éticas de pós-morte, decepções, amores, paixões e tristezas, tudo como manda o figurino bem parecido com o mundo dos vivos a diferença é que aqui é visível nossa podridão . Trabalhamos, estudamos, mentimos e amamos assim como em vida, às vezes pergunto-me se estou vivo, quem sabe apenas um sonho sem fim um pesadelo talvez, mas não faz mais diferença nunca fez nem em vida nem em morte.
Morrer nunca é o bastante como viver também nunca é, reclamava da vida quando a tinha, hoje reclamo da morte e amanhã vou reclamar de qualquer outra coisa e desejar aquilo que já não tenho mais.
Morri eu sei, como também vivi e aproveitei e como aproveitei e amanhã nem sei, nem Deus nem nada, apenas por que o amanhã nunca é o bastante.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Quase que Perfeição

Tudo estava onde devia estar ou assim esperava-se, não acredito na perfeição, mas aquele momento era talvez o mais próximo de uma, era uma quase perfeição.
O sol estático com seus raios a mergulhar no oceano e assim se fez o pôr do sol, ali parado e imóvel ele permanecia, dividindo espaço entre algumas nuvens curiosas a olhar.  
A extensão do mar ali estava também, as ondas paradas e o azul do mar tornaram-se um tapete sem fim onde a água terminava a areia fina e branca da praia começava.
Algumas tochas demarcavam o lugar formando assim uma pequena estarda em direção ao altar.
Em cada lado uma trilha de flores ajudavam a se movimentar, pétala após pétala ocupavam seu devido lugar, por todos os lados até o belo altar.
Todos ali a esperar, pela noiva que não tardaria a chegar.
Que toquem a marcha nupcial pois ela já estava por andar.
Um passo seguido do outro em um ritmo compassado e os olhares atentos a fitavam.
Em seu vestido nada além de tecido, leve e quase que transparente, entre a luz do sol que seu corpo contornava delicadamente, em seus pés apenas seus dedos que sentiam o calor que da areia emanava, era gosto ela pensava, ela sentia a areia entre seus dedos e continuava.
Em suas mãos nada extravagante, eram flores, linda flores iguais as atiradas ao chão.
Em seu cabeça grinalda não existia eram flores que contornavam seus cabelos, fio por fio onde o que era flor e o que era cabelo não se sabia, flores coloridas dos mais variados formatos e dos mais distintos aromas.
Seu véu era o céu, de um azul da imensidão do mar e em sua face um sorriso quase que suspeito, como se fosse fugir deixar aquilo tudo para trás, mas era sorriso de alegria, discreto e contente, seus olhos radiantes eram outras flores de brilho reluzente.
Ao altar nada existia, onde estava o noivo? Ora ninguém sabia, mas ela sabia que ele ainda nem existia e tinha medo que nunca fosse.
Mas todos ali logo compreendiam, o que importava um noivo se todo o resto ali estava e pouco a pouco ocupavam o lugar de uma pessoa que quem sabe imaginava longe ou perto dali, quase que o mesmo, uma outra quase perfeição.


domingo, 23 de março de 2014

O Fim

E quando o fim chegar 
meu julgamento ou qualquer outro nome que possa dar
serei confrontado 
questionado 
humilhado...
E pensarei sobre o que vivi 
senti 
desejei 
e sobre o que me espera.
Vou olhar ao passado e muito vou lembrar
e outras coisas em meus pensamentos vou guardar
vou compreender e ao mesmo tempo confundir 
sobre o que foi a vida e sobre o que será a morte.
E quando o fim chegar 
não precisamente minha morte em si 
pode ser o fim de meu dia 
que seja outro tipo de morte 
mas não uma sem fim.
E quando despertar 
mesmo que seja de meus sonhos 
em outro mundo vou estar 
não sei
não sei... 
ou sei  ?!


sexta-feira, 21 de março de 2014

A Mão Direita de Deus – Expiação Part II

Estava escuro e Clara a cada três passos que dava um se debatia em algo que não podia identificar, um banco, pedaços de paredes, madeira, árvores, qualquer coisa...
Ela conseguiu sair por uma das aberturas da ruína, não conseguia ver onde estava o carro e nem adiantaria, pois as chaves estavam no bolso de Luis, a escolhe que tinha era arriscar a vida entre a luz do luar e correr aleatoriamente e com um pouco de sorte encontrar ajuda.
Ela corria desesperadamente e gritava por ajuda, mas o único som que escutava como resposta era de animais noturnos.
Corria e olhava para trás, via a ruína afastando-se, mas nada do misterioso homem o desespero crescia em seu coração que acelerava quase ao ponto de saltar para fora de sua boca, pensava em coisas terríveis, o que poderia ele estar fazendo com seu amado? Imaginava ele amarrado a uma cadeira ao lado daquele outro homem, quem sabe nem tenha sobrevivido a pancada em sua cabeça e estaria atirado ao chão ainda, frio, morto sem vida e o homem parado ao seu lado admirando sua pressa, por um lado ela esperava isso, podia amar Luis, mas amava a si mesmo antes de tudo e se pudesse ganhar algum tempo enquanto aquele maníaco admirava o cadáver de seu namorado ela aceitaria.
Clara estava cansada, seu corpo inteiro latejava, não aguentava mais e parou para descansar um pouco ao lado de uma grande árvore, ali ela esperava recuperar um pouco de folego para novamente correr pela noite em busca de sua salvação, mas não tinha tanto tempo assim como imaginava, pois pensava que tinha conseguido uma boa vantagem ao homem, mas logo percebeu que estava errada, ao longe ela via ele, vindo em sua direção, em sua mão direita o mesmo objeto que usou para acertar a cabeça de seu namorado, agora era sua vez de ficar inconsciente, novamente correu entrando em uma floresta de grandes árvores.
Entre as árvores não conseguia ver o homem, mas sabia que ele estava por ali, correu por mais uns dez minutos até que exausta caiu ao chão, as lágrimas já começavam a se soltar de seus olhos e o desespero aumentava, ao levantar a cabeça pode ver que estava em frente a uma pequena cabana, simples e toda de madeira, pensou que era sua salvação, fez um esforço muito grande e arrastando-se e dando alguns passos entrou na casa gritando por ajuda, mas apenas seu eco obtinha como resposta o local estava vazio, não havia nenhuma pessoa, mas a casa era habitada havia moveis, e a casa estava bem arrumada, quem sabe o dono estava fora e poderia logo voltar e assim ajudar Clara, ela estava cansada, não conseguiria mais andar, era sua única escolha se esconder e esperar por seu salvador.
Usando de apoio alguns móveis ela foi caminhado até uma escada que levava ao andar inferior da casa, com dificuldade consegui chegar até em baixo, mas estava muito escuro, foi passando a mão entre as paredes procurando por um interruptor, após tatear alguns metros de madeira consegui ligar a luz e poder ver o que ali se encontrava, seu espanto era maior ainda o que via com seus olhos somente lhe deixavam mais nervosa e tensa, muitas imagens de santos, estátuas e alguns objetos sacros que pareciam ser de ouro e prata, ela já tinha sua resposta sobre o sono da casa, queria sair daquele local, mas algo chamava sua atenção, em cima de uma pequena mesa um grande livro, todo recoberto de couro e em seu centro uma cruz em branco ela abriu e começou a folhear algumas páginas e logo percebeu que se travada de uma bíblia, mas percebeu que era muito maior que uma bíblia comum, percebeu que as últimas páginas estavam em branco e havia varias outras assim pareciam que elas haviam sido anexadas ao livro original, eram de um papel mais novo e de outra cor bem parecido com o original, mas de fácil distinção, estavam todas em branco, apenas algumas estavam com palavras, mas não era nada que lembrasse algo relacionado à igreja, leu algumas passagens e parecia muito com a forma que a bíblia era escrita, dizia na primeira folha logo após o fim de apocalipse: Livro da Expiação 1:1 – E no principio era a justiça de Deus na terra e um de seus filhos se tornou sua mão direita. 1:2 – E aquele que peca usando o nome do senhor terá sua rendição sobre os pés da santa casa do pai. 1:3 – E todos os outros pecadores deveram abdicar de seus erros para entrar ao reino do céus...
Tudo aquilo era estranho sem falar que a tinta usada não era algo comum, era um tom avermelhado e tinha um forte cheiro de sangue, mas antes que pudesse chegar a uma resposta Clara escutou passos no andar de cima da casa, em um movimento rápido, mas com todo cuidado para não fazer barulho apagou a luz e se escondeu em um dos cantos, esperando não ser descoberta, escutava atentamente os passos lá em cima ao que parecia a pessoa caminhava de um lado para o outro até que escutou os barulhos na escada e a luz foi acessa, ela estava atrás de um biombo, mas entre alguns furos no tecido pode ver o homem, pela primeira pode ver o misterioso assassino, mas não ajudava muito pois ele usava uma roupa toda preta com um capuz que cobria grande parte de sua face e fazendo uma sombra sobre seu rosto impedindo de ver ser traços, ela tremia e com a ajuda de suas mãos sobre a boca ela tentava não fazer nenhum barulho.
Em um momento de descuido ela derrubou um dos candelabros que estava ao seu lado fazendo um grande ruído o homem rapidamente virou-se para o local onde ela estava, em um ato impulsivo Clara tentou alcançar as escadas e fugir, mas esbarrou em uma grande cruz que estava ao lado do primeiro degrau fazendo assim cair sobre suas pernas a grande cruz impedindo assim sua fuga, ela ainda tentava fazer um esforço e remover o grande peso de suas pernas, mas não adiantava o objeto não se movia nem um centímetro e quanto mais tentava mais pressionava suas pernas, naquele momento ela soltou o seu grito de medo e dor que estava trancado em sua garganta, seu corpo tremia quase que compulsivamente e seus olhos já não controlavam suas lágimas.
O homem apena olhava e disse: -Não adianta tentar fugir, você pode até escapar de meus olhos e minhas mãos, mas dos olhos e do poder do pai nunca ficara livre.



terça-feira, 18 de março de 2014

Sob o Olhar da Lua

Eu presenciava tudo de cima, ali de onde o mundo era somente meu e a noite e o silêncio eram meus eternos companheiros, mas na noite em questão eu a própria lua fui mera espectadora de outro momentos tão lindo quando meu próprio brilho quando banha-se no mar.
Sob uma luz fria, opaca e amarelada de postes daquela pequena praça dois jovens, dois sorrisos e um único olhar, nada previsto e nada programado, era tudo ocorrido em um mais perfeito suspiro, em uma trama digna de cinema e retratada dentro de um livro.
Ela ali sentada em um banco frio e ele ali compartilhando da mesma pedra fria, mas de corações quentes e acelerados, o que aconteceria nem mesmo eu a lua saberia.
Estavam ali entre conversar, olhares e um que outro toque levemente ocorrido, então do nada surge uma ideia quase que impassível de uma bicicleta que corta o vento e despertava sorrisos.
Ela com seus olhos doce e delicado deixava ser levada por aquele rapaz que suavemente a carregava, para um lado e para o outro balançando com um navio em uma tempestade, eu de cima também sorria, não tinha como não sorrir perante tão linda cena.
Em um canto escuro onde meus olhos não podiam ver aconteceu um beijo eu sei, podia não ver, mas sentia e escutava e como escutava, escutava um som apenas de uma única respiração e sentia o calor de um único corpo, ali onde meus raios brancos não podiam alcançar eu sabia que já não mais existiam dois, naquele canto era apenas um.
No fim da noite eu ainda espiava e admirava tudo aquilo com um sorriso bobo, igualzinho ao dela deitada em sua cama, ele eu já não sei, pois sua janela para mim estava fechada, mas além daquelas janelas um sorriso tão bobo quando o meu com toda certeza existia.
Concentrei meus raios sobre ela então e via seus grandes olhos reluzindo ao nada, ela fechou lentamente seus olhos, mas sabia que em sua mente para sempre estaria aquela noite e na minha também.
Todas a noites eu dou uma espiadinha naquela praça e mesmo que eles dois eu não veja eu lembro do momento que somente eu pude admirar.

domingo, 16 de março de 2014

A Mão Direita de Deus - Expiação

Moacir debatia-se sobre aquela cadeira, o desespero tomava conta de seus pensamentos e ele gritava por ajuda:
-Socorro, Socorro alguém me ajude, Socorro.
Sempre calmo o homem parecia que nem sentia a dor de sua pele queimada e respondeu:
-Aqui apenas o pai pode lhe escutar, grite o quanto quiser, grite, mas sua salvação já esta aqui.
O homem parou por um instante e dirigiu-se até uma das janelas do local, retornou logo para perto de Moacir e colocou um pedaço de pano em sua boca, pegou suas vestes do chão e rapidamente apagou as velas e antes de sumir na escuridão disse:
-Fique aqui eu logo retorno, tenho outros cordeiros para juntar ao rebanho do pai.
Assim ele sumiu e Moacir ficou apenas com a luz da lua em um completo silêncio. 
Não muito longe das ruínas, um casal de jovens aproximava-se da propriedade, Luis e Clara, ambos com vinte e um ano, jovens bonitos e cheios de vida que buscavam apenas um pouco de diversão.
-Eu juro que vi uma luz vindo daquelas ruína. Disse Clara
-Que bobagem, ninguém vem aqui, deve ter sido o farol do carro que iluminou. Respondeu Luis.
Ao longe entre as sombras da noite o homem apenas observava o casal, viu os dois estacionar o carro e descer com uma lanterna nas mãos.
-Será que vamos encontrar alguns fantasmas por aqui? 
-Pare com isso Luis eu estou ficando com medo.
-Dizem que esse lugar é mal assombrado, depois que misteriosamente pegou fogo, matando todos os Franciscanos que aqui moravam, foi lacrado e nunca mais ninguém colocou os pés por aqui, dizem que as vezes pode-se escutar eles rezando por suas almas condenas a queimar eternamente...
-Eu já falei para parar com isso se não eu vou embora.
-Tudo bem tudo bem, não precisa ter medo Clara não tem nada aqui, nem fantasmas nem pessoas.
O homem ainda seguia os dois de longe, apenas observando.
Pouco a pouco os dois foram entrando dentro da ruína, era um local sombrio e Clara permanecia o tempo toda agarrada ao braço de Luis e ele apenas ria da situação, não era de sentir medo e ainda mais com uma linda garota ao seu lado isso não mudaria.
Na medida que adentravam pelo local, escutavam ruídos ao que Luis dizia ser pombas ou ratos, os barulhos ficavam mais nítidos ao se aproximar do fundo da construção, focalizavam com a luz da lanterna e o que viam eram ratos, baratas ou pombas por ali.
-Falei que não tinha nada aqui, não tem com que se preocupar.
-Tudo bem, você estava certo, mas vamos sair logo daqui.
-Espere um minuto Clara, eu escutei um barulho vindo ali logo atrás daquela cortina, quem sabe seja nosso fantasma.
-Já falei para parar com isso, deixe isso, deve ser outro animal estúpido, vamos sair daqui agora, não estou me sentindo bem.
-Depois disso vamos, prometo.
Eles se aproximavam da cortina e o barulho aumentava, era um som conhecido como de uma porta rangendo.
Luis colocou sua mão sobre a cortina e puxou logo viu um homem sentado em uma cadeira, estava com os olhos arregalados para eles e tentava dizer alguma coisa, mas aquele pano em sua boca não facilitava nada.
Ele começou a se mexer na cadeira e fazer ruídos e arregalar os olhos mais ainda, antes que Luis pudesse dizer algo foi acertado na cabeça pelo homem que escondia-se nas sombras atrás dele, Clara correu para dentro da escuridão, mas ainda conseguiu ver um homem parado ao lado do corpo de seu namorado caído inconsciente ao chão. 
Provérbios 16:6 - Com amor e fidelidade se faz expiação pelo pecado; com o temor do Senhor o homem evita o mal.

 

Buquê

Tão poético quanto um buquê de flores 
lançado ao nada 
lançado ao ar 
Tão fácil depois de ter em suas mãos 
tão disputado por pessoas atiradas ao chão 
Um punhado de flores 
uma dose de sentimentos 
representados em um buquê 
Simples flores 
doces e suaves 
 florais do amor.



*Foto de Paula Steinhaus 


terça-feira, 11 de março de 2014

A Mão Direita de Deus - Terceira Sentença - Part III

Pouco a pouco Moacir começava a abrir os olhos, mas logo percebe que esta imóvel presso a uma cadeira, tenta forçar a madeira e as cordas, mas não obtêm sucesso algum, seu corpo está fraco e sua garganta pede água e sua cabeça inchada pela pancada latejava a cada pensamento.
Não sabia onde estava e nem adiantava tentar descobrir, aquela igreja abadanado não era um lugar que conhecia, ao menos não conhecia mais, em tempos remotos mais precisamente em sua infância, tinha seis anos quando colocou seus pés pela primeira vez naquele local, onde ali apenas ruínas existiam agora no passado era um lindo mosteiro da Ordem Franciscana, sobre aquelas paredes destruídas a consagração era feita todos os domingos, aberta para a pequena população da cidade rural de Santino, claro que Moacir não poderia lembrar disso, naquele momento apenas observava o estranho homem ajoelhado na escuridão logo a sua frente.
-Por que está fazendo isso comigo? Pergunta Moacir 
O homem aproximou-se e respondeu calmamente:
-Você está aqui para sua absolvição meu irmão, hoje vou lhe conceder a vida eterna e tirar de sua carne os pecados terrenos, você é filho do pai e hoje ao raiar do sol vai estar ao lado dele.
-Louco! Você é louco, o que pensa que é para fazer isso comigo, vamos me solte, eu quero sair daqui...
O homem sorriu, em seus lábios um sorriso doentio e sombrio, com a voz calma como sempre respondeu:
-O que eu penso que sou? Eu sou a mão direita de Deus, sou seu filho mais justo e aquela mais cruel, eu sou o amor do pai e a tristeza dele com sua crianção, o que sou ora eu sou ele, sou parte de sua justiça, eu sou Deus.
Moacir riu histericamente, já não tinha controle de suas emoções, era uma mistura de medo, tensão e raiva.
-Deus? Você pensa que um maluco como você é Deus, você não passa de um louco, louco é isso que é.
Agora era o homem que sorria:
-Vamos ver se eu sou louco mesmo.
Logo sumiu na escuridão, retornou em alguns minutos, em sua mão um grande caixa de madeira e uma bíblia recoberta por couro com uma grande cruz em sua frente, trouxe junto algumas velhas, que espalhou pelo local, enchendo o ambiente com uma luz opaca e amarelada.
Abriu a caixa e retirou dela uma cruz fundida em ferro, abriu a bíblia e escorou o pedaço de metal sobre a chama de uma das velas que estava ao seu lado.     
-Tudo que preciso está aqui nestas palavras, nas palavras de salvação, Romanos 8:23 que diz assim: "E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa doação como filhos, a redenção do nosso corpo."
 Moacir arregalava os olhos, não sabia o que olhava, parava e observava o metal que com o calor da chama esquentava e cruz que ficava pouco a pouco avermelhada ou ao homem ajoelhado aos seus pés lendo aquilo. Em sua cabeça muitas coisas se passavam, todas elas não eram boas saídas, o que poderia esperar de um demente como aquele? 
Ele fechou a bíblia levantou-se e abriu sua túnica, botão por botão e deixou cair sobre seus pés.
O que Moacir via era a confirmação da demência do homem, em seu peito muitas marcas em forma de cruz, provavelmente feitas pela cruz que esquentava na chama da vela, a pele queimada, cicatrizada e outros feitos recentemente.
-Você está vendo agora? Como aqui a loucura não existe, aqui é apenas a mão de Deus, a mão que me sustenta.
Ele tomou em suas mãos a cruz por uma haste de ferro e enquanto aproximava o ferro quente de seu peito dizia: 
 -Não por meio de sangue de bodes e novilhos, mas pelo seu próprio sangue, ele entrou no Lugar Santíssimo, de uma vez por todas e obteve eterna redenção.
Logo após o silêncio tomou conta e a escuridão envolveu os dois no ar um forte cheiro que misturava, pelo, pele e carne queimada misturava-se aquelas ruínas misturava-se aqueles homens.